Por aqui, tudo vai mais ou menos mal. Mas já basta.

Não parece que a felicidade seja algo que encontramos com facilidade pelas ruas nos nossos dias. Ainda que tenhamos pequenos momentos de alegria, causados por alguma boa notícia, eles são efêmeros e se dissipam no ar quase imediatamente. Por duas razões.

Primeiro, porque as boas notícias, quando ocorrem, têm sido apenas suspiros para aqueles que andam sufocados: uma possibilidade de emprego, um dinheirinho a mais, algo que era necessário para manter a vida com o mínimo de dignidade e foi conquistado, o amigo ou parente que escapou do genocídio da pandemia, da violência urbana, da violência do Estado… Notícias assim causam alguma alegria, sem dúvida. Mas rapidamente se tornam amargura ou resignação triste, exatamente por corresponderem apenas ao que deveríamos considerar o básico, o óbvio, mas que se tornou a exceção.

A segunda razão da nossa tristeza é coletiva: mesmo que uma ou outra notícia possa nos alegrar, parece impossível a felicidade no meio de tanta violência de todos os tipos. Não parece razoável que as pessoas estejam felizes e, ao mesmo tempo, convivam com os preconceitos propagados pelos quatro cantos; não parece razoável estar feliz fazendo ou assistindo aqueles que fazem a “arminha” com a mão; convivendo com a pregação constante do ódio, com a apologia da tortura, do assassinato, da ditadura; numa expressão mais breve, não parece possível ser feliz no retrocesso civilizacional pelo qual passamos.

E qual a saída para isso? Não há saída miraculosa. Aliás, por falar em milagre, não custa lembrar que as religiões no conjunto, mas, em particular, o cristianismo, têm se esmerado em demonstrar o quão distantes estão de qualquer coisa que lembre felicidade. De qualquer maneira, um ponto positivo desse tempo obscuro é que muitas instituições têm se mostrado exatamente como são: as igrejas, as forças armadas… Que não se perca essa memória. Como disse Vandré, vamos fazendo as contas para o dia que vai chegar!

A saída exige um novo ciclo, em direção à uma nova formação social, baseada em relações sociais de tipo novo. Somente isso é saída de fato. O resto é paliativo. Mas, já que é sempre necessário nesses tempos dizer o óbvio, os paliativos podem ser necessários para aplainar o caminho para soluções mais perenes.

Por ora, é preciso garantir o estancamento do nosso retrocesso civilizacional, numa ampla frente capaz de resgatar a dignidade da vida, materialmente e politicamente, ou seja, garantir alimento, moradia e alguma proteção àqueles que voltaram a engrossar a fila dos miseráveis, mas também combater decididamente o irracionalismo e a fascistização do país.

É possível deixarmos essa fase mais estúpida para trás. É possível não morrermos também neste ano, mais uma vez, como o “Sujeito de Sorte”, de Belchior.

6 comentários sobre “Por aqui, tudo vai mais ou menos mal. Mas já basta.

  1. Grande Mestre Mangolin. Boa tarde! Feliz em receber novamente suas reflexões.Espero que esteja bem. Mais uma vez, bom texto que nos faz refletir sobre o propósito de nossas vidas. Mande notícias.Estou sempre na Praia Grande.Vamos agendar um café quando achar conveniente. Forte abraço. Att, Filipe NevesSeu aluno de Ciências Econômicas em 2014.

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